O blog PARASITA FILES, entrevistou, nesta segunda-feira (24/03/2008), Pedro “Poney", vocalista do Violator , Possuído Pelo Cão e baixista no Scumbag . (BFL = Blog parasita files. P = Pedro, Poney)
Blog Parasita Files : E ae Poney, valeu por ter aceitado a entrevista...sei que voce não tem muito tempo livre! Valeu mesmo. Como você começou a se interessar pelo rock? Conte ae sua história.
Poney : Eu que agradeço, sobrinho do Orfeu! Na verdade, desde que voltei da turnê, tempo livre é só o que tenho (leia: vagabundo) , ainda mais para responder entrevistas agradáveis e diferentes como essa. Então, se voltarmos a 1990 vamos encontrar um muleque de 5 anos colecionando fitinhas K7 do rei, Michael Jackson. Véspera de sair Dangerous, clip com Macauly Culkin, tempos empolgantes aqueles. Tempos depois, o muleque foi crescendo, virou um gordinho nerd e pegou a ressaca do grunge e a explosão das bandas do poppy punk. Green Day, Offspring, essas coisas. Entre 95 e 96, uns 9, 10 anos. Escutava tudo que era porcaria que passava na MTV, de Bush a Presidents of United States of America (alguém aí lembra dessas bandas?). Um ano depois, Satanás mirou no meu coração, e ouvi o The Number of the Beast pela primeira vez e minha vida começou a sair do trilho. Comprei o álbum preto do Metallica e logo depois descobri com o Capaça, a beleza crua do Kill'em All. Daí foi Sepultura, Slayer e aquele camino natural todo. No final das contas, com 14 anos, em vez de sair para conhecer garotas, eu saía era em busca de discos de vinil do Annihilator em sebos empoirados da cidade. Valeu. Acho.
BPF : E, assim velho, nessa trajetória aí, tu ouviu muitas bandas, viu muita gente tocar. Tem alguém, ou alguma banda te influência pra caralho na hora de tocar?
Poney : Daqui de Brasília, minha referência maior é esse meio do caminho entre metal e punk trilhados por muitos antes de nós e que certa maneira deu base pra toda a cena que a gente ajudou a construir aqui na cidade. Tô falando de gente como Fellipe CDC com zines como o Protectors of Noise e bandas como o Death Slam, e os caras do DFC que sempre tocaram hardcore ouvindo Slayer mandando cover do DRI. Com relação à músico, eu não tenho nenhum de cabeça, toco mal pra caralho (risos), gosto do Dee Dee Ramone, gosto do jeito como os caras do WHN? agitam. Me amarro na samambaia do Danny Lilker, na simpatia do Barney e na loucura epiléptica dos bons tempos do HR. Ah! tem as corridinhas do Scott Ian, que são (eram?) demais, né?
BPF : Em todo esse tempo de rock ,no cenário underground, você tem alguma história cabrera pra contar pra gurizada do Parasita? Os doidão que puxam facas em show e etc...hehehehe
P : Caralho, são muitas histórias para uma mera página virtual! Um pequeno apanhado em linhas gerais: já teve doido invadindo show com faca na mão e eu evaporando pelo canto, já teve também crente doido aparecendo em show pra me bater, já ficamos hospedados em puteiro com direito a cama gozada e dormida em cima da bandeira do Violator, já rolou viagem de barco de 20h no meio da floresta, já passamos fome na Venezuela porque gastamos o pouco do dinheiro que tínhamos pra alugar um Cadillac e pegar uma praia no Caribe, já viajamos ilegalmente na madrugada do deserto boliviano e tivemos a nossa van – que carregava frangos mortos – atacada com pedaços de pau, aconteceu de não ter voz pra cantar e o Capaça segurar a onda, o mesmo Capaça que certa vez atacou de sonâmbulo mijão na casa de um amigo que nos hospedou. Muita histórias que fazem a gente ver que jogar a vida pela janela por causa do rock pode não trazer dinheiro, mas trás bastante diversão! (risos)
BPF : Na internet muita gente baixa mp3. A maioria acaba não comprando os cds, não dão apoio para as bandas nacionais. A internet ajuda na divulgação de muita banda underground, mas também atrapalha muito com esses lances de Napster e tal. Qual é a sua opinião? A internet ajuda ou atrapalha?
P : Como diria o sábio José Canjica, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Isso significa que a realidade é complexa demais, envolve muitas nuances, poréns e exceções que devem ser levadas em conta e impedem uma generalização de apenas “isso é bom” ou “isso é uma merda”, se você não quiser ter uma visão simplista das coisas, o que eu acho que é sempre uma boa coisa. Pensando em internet, então. Eu acho a distribuição livre de qualquer coisa, algo muito bacana, bonito e bastante legal. Seja música, filmes, idéias, conversas, é muito legal o fato de várias pessoas terem acesso a essas coisas sem terem que pagar por isso, é um olé na indústria de certa maneira. O foda, por outro lado, é que o underground não é indústria, mas se lasca do mesmo jeito. Em um mundo ideal, que só existe na minha cabeça, as pessoas trocariam gratuitamente o que bem entedessem pela rede, mas não deixariam de comprar discos de bandas independentes. Porque o que é importante entender é que quando você compra um disco do Slaver, por exemplo, isso não é uma mera aquisição de produto, como é comprar um disco do Lefts Krafts, que é a mesma coisa que comprar um shampoo, é produto. No exemplo do Slaver, ao comprar o disco você está ajudando, fazendo parte de uma cena e ajudando um certo tipo de produção, independente, autônoma e de contra-cultura, a continuar existindo. Sinceramente, com os recursos tecnólogicos a que temos acesso hoje, gravar um disco ficou bem mais barato, mas ainda é caro pra caralho. E se por exemplo, todo mundo baixar mp3 e ninguém comprar discos da Kill Again Records, o selo deixar de existir, vai ser impossível pro Violator, por exemplo, lançar qualquer tipo de material novo. É complicado. Eu espero, honestamente, que no futuro a gente possa rir de questões como essa, que o underground dê um jeito de continuar, que as pessoas troquem o que bem entenderem gratuitamente e a gente veja a grande indústria musical se implodindo e se fodendo. Eu vou querer um camarote.
BPF : Sobre suas bandas, começando pelo Violator: Vocês pretentem lançar algo esse ano? Como foi a tour "Thrashin United"? Foi bom tocar fora do Brasil?
P : Legal, pretendemos sim! Temos alguns lançamentos planejados! Mais um EP só do Violator, em que a gente possa trabalhar um tema só de maneira lírica e estética. Um split com os crossover maníacos do Bandanos e se tudo der certo, um DVD que não pode ser filmado em outro canto que não seja nossa brasa city querida. A turnê? Foi tudo do caralho! Tocar fora do Brasil foi muito foda, tiveram shows realmente inacreditáveis, a gente gosta de tocar, seja aonde for. Se tiver maníacos se jogando um por cima dos outros tá valendo. A turnê foi algo muito intenso em nossas vidas, cinco meses tocando todos os finais de semana, nove países, 50 shows, foi viver de sonho e se alimentar de thrash. Você volta meio deprimido com a perspectiva de ter que trabalhar/estudar e voltar a ser uma pecinha no funcionamento do sistema. Mas beleza, não vejo a hora de me jogar na estrada de novo.
BPF : Sobre o "Scumbag" : Como surgiu a idéia de fazer uma banda de grind? E a demo, quando poderemos ter em mãos?
P : Eu acho que quem teve a idéia foi o Batera. Desde que tocamos com o Subtera em 2003 ficamos muito abismados com aquilo. Alguns anos depois dividimos o palco com o Facada e não podíamos acreditar em como aquilo era energético. Já estávamos há algum tempo devorando os primeiros discos do Napalm Death, o Terrorizer e outras coisas do comecinho da Earache e resolvemos nos juntar pra fazer grind. É muito legal tocar outros tipos de som, porque o Violator tem uma proposta muito específica dentro de um estilo mais específico ainda, e isso não vai mudar, faz parte da banda, se for pra fazer outro som, melhor fazer outra banda. De qualquer maneira, é bem legal poder fazer umas músicas mais simples, colocar uns blast beats e colocar o Capaça pra tocar Crust. A demo não sei quando sai, é provável que já saia num disco mesmo, three-way split. Vamos ver.
BPF : Possuido pelo Cão : A pergunta que não quer calar, o cd sai ou nao sai? Quais são as expectativas para esse ano? Muitos shows, uma turnê?
P : Então, eu tinha falado que o disco só ia sair quando fosse lançado o “Chinese Democracy”, mas o Axl tá enrolando muito então a gente deve lançar o “Possessed to Circle Pit” logo. Até maio, que é quando voltamos a tocar, deve estar tudo pronto. O PPC é formado por um bando de arrombados enrolões (eu, incluso), o disco vai fazer aniversário de 3 anos já, daqui a pouco tá lendo e escrevendo. Foda. Temos alguns shows marcados e uma mini tour por Rio e São Paulo, por enquanto é só. A gente não faz nada pelo Possuído e ele se vira tão bem sozinho, arranja clip, shows, manifestos da Possessed Legions. Tá bom demais assim, melhor não mexer. (risos).
BPF : Todo mundo sabe que viver de Rock no Brasil é meio difícil, a não ser que voce tenha uma banda que toca no faustão, gugu, esse tipo de coisa. O que você faz fora do rock pra se sustentar?
P : Então, eu moro com a minha mãe! (risos) Tô com 22 anos, me formei em jornalismo, achei esse mundo da comunicação uma dis-graça, larguei tudo e fui viver de rock por 6 meses na américa do sul. Voltei agora e tô fazendo uma pós-graduação em Filosofia. Desempregado e sem muito ânimo de procurar trabalho. Vou fazer alguns concursos, mas só por desencargo de consciência. Tenho tentado viver com pouco e gastar pouco. Me imagino como professor no futuro, talvez seja uma maneira mais honesta de fazer dinheiro e se sustentar. Também tenho planos de uma lojinha, espero que dê certo. Mas na real mesmo, é que todo esse papo de imaginar o dinheiro fazendo as coisas rodarem me deixa meio enjoado, não sei lidar bem com isso.
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